O conceito da Integração Sensorial começou a ser desenvolvido pela Dra. Jean Ayres, terapeuta ocupacional, psicóloga educacional e neurocientista, nos anos 60. Ela foi a primeira a desenvolver a teoria de que a Integração Sensorial tem influência no comportamento e na aprendizagem das crianças. E trata-se de um processo cerebral que leva à organização e interpretação das informações que recebemos através dos sentidos do nosso corpo, o olfato, o toque, o paladar, a visão, a audição, o movimento, dentre outros.
Por Joyce Lira e Cinthia Raquel
Desde o início da vida da criança que a sua existência está ligada à sensações. Aprendemos e conhecemos o mundo através dos nossos sentidos. Ainda na barriga da mãe o bebê responde às sensações. Como por exemplo, a pressão do ventre materno e a resistência que ele oferece quando a criança se movimenta. E a partir do momento que ocorre o nascimento, ele recebe de forma intensa novas sensações: a força da gravidade, os tipos de diferentes sons, o toque das pessoas, as texturas de roupas, cheiros, luzes, sabores, estas são algumas dentre variadas sensações. E com isso o bebê irá ter que aprender a regular o seu comportamento a estas sensações e desenvolver habilidades para que tudo o que ele sentir que venha do seu corpo e do ambiente faça sentido e lhe permita agir de forma adequada.
A Integração Sensorial nos remete ao fato de que o aprendizado depende do nosso corpo conseguir receber, processar e responder às informações que chegam até ele. A integração de todas as sensações é necessária para que possamos desempenhar nossas funções de forma satisfatória e funcional e assim promover o seu desenvolvimento.
Neste sentido, a disfunção de Integração Sensorial é a dificuldade em usar a informação recebida pelos sentidos e desta forma conseguir responder adequadamente nas atividades do cotidiano, e quando existem dificuldades no processamento dessas informações podem aparecer diversos problemas, dentre eles, seletividade alimentar, déficit na coordenação motora, na aprendizagem, no comportamento.
Conforme disfunções supracitadas, as desordens referentes ao processamento sensorial são comuns em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), a literatura refere que entre 69 a 100% das crianças com TEA apresenta tal déficit na organização sensorial localizado no sistema nervoso central. As alterações sensório-perceptuais podem acometer até 90% dos autistas, com prevalência para as hipersensibilidades táteis, auditivas e visuais, assim como hipersensibilidade à dor.
As crianças apresentam dificuldade em regular as respostas às sensações e podem utilizar a auto estimulação ou evitar a estimulação demasiada para compensar o input sensorial. Cabe ressaltar, que a alteração sensorial nos autistas é paradoxal, a depender de cada indivíduo. Para alguns, poderá ocorrer a falta de resposta ou a insuficiência da mesma e em outros uma resposta exagerada. Deste modo, os déficits sensoriais em crianças com TEA podem ser oriundos de desordens quanto a modulação sensorial; a discriminação sensorial; transtorno motor de base sensorial e a ausência do registro sensorial.
Por isso, a terapia de integração sensorial se faz necessária para crianças que tenham disfunção na organização dos sentidos, para a organização do processamento sensorial e assim refletir no bom desempenho das atividades do cotidiano, compondo a capacidade do indivíduo de regular e organizar os graus, a intensidade e a natureza das respostas a estímulos diversos.
—————————————
Referências
BARANECK, G. Efficacy of sensory and motor interventions in children with autism. Journal of Autism and Developmental Disorders, v. 32, p. 397-422, 2002.
SERRANO, P. A Integração Sensorial – No desenvolvimento e aprendizagem da criança. Editora Papa-Letras. Lisboa, 2016.
REIS, H. S.; PEREIRA, A. S.; ALMEIDA, L. S. Construção de uma escala de avaliação das perturbações do espectro do autismo: a importância do processamento sensorial.
Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 19, n.2, p. 183-194, Abr.-Jun., 2013.
GOMES; E.; PEDROSO; F. S.; WAGNER, M. B. Hipersensibilidade auditiva no transtorno do espectro autístico. Pró-fono revista de atualização científica. 2008.
MATTOS, J. C.; CYSNEIROS, R. M.; D’ANTINO, M. E. F. Utilização do instrumento de avaliação sensorial – SENSORY PROFILE – em indivíduos com transtornos do espectro do autismo: uma revisão de literatura. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.13, n.2, p. 104-112, 2013.
—————————————